quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O toque

Ele saiu do ventre de sua mãe e ao contrário das outras crianças, que choravam ao seu redor, não enxergou as cores, as formas, a vida. Gemeu baixinho, encolheu o pequenino corpo e debateu-se na escuridão até sentir-se envolto por dois braços acolhedores. D. Esmeralda o colocou para dormir e guardou para si as preocupações e convicções que só o ser mãe é capaz de ter.
Passou sua infância na fazenda do avô convivendo com coloridíssimas borboletas, alegres pássaros e verdes pastagens que ele sabia que existiam, mas que seus olhos não eram capazes de enxergar. Passava a maior parte do tempo sozinho e recluso em seu mundo escuro. As outras crianças não o incluíam em suas brincadeiras, ao não ser na “cabra-cega”, na qual ele era sempre a cabra.
 Todavia, Cecílio não se chateava por não brincar com as outras crianças. O que ele adorava mesmo era sair sozinho e entrar na mata, esbarrar nas árvores, sentir o cheiro da vida, ouvir cantos de seres desconhecidos por sua visão. O que ele gostava mesmo era de se sentir livre. Liberto dos cuidados excessivos de todos que o rodeavam. Liberdade, ele só procurava isso. Desenvolveu-se em meio a essa liberdade.
O tempo seguiu seu curso indesviável e Cecílio tornou-se adolescente. Mudou de fisionomia e de endereço. Agora, mora com a mãe no Bairro das Flores Alegres. Ainda continua recluso, ainda mais eu diria. Não tem amigos e seu único passatempo é ir à pracinha para tentar sentir a liberdade que ele sentia na fazenda. Contudo, o máximo que consegue é uma suave brisa com um leve frescor perfumado de rosas tocando sua face. Por mais que tente cheirar a liberdade, aqui ele não corre, não esbarra nas árvores, não ouve cantos de seres desconhecidos.
Mas sentindo ou não o cheiro da liberdade, toda manhã ele está na pracinha. E foi em uma dessas manhãs que ele conheceu Cristina. O sol flutuava amarelo no céu azulado. As rosas desabrochavam lentamente e as flores observavam atentas aquele espetáculo. Algumas crianças brincavam no parquinho.
Cecílio sentou-se no banco como de costume, cruzou as pernas e ficou balançando a bengala desorientadamente. Alguns pombos o sobrevoaram na esperança de ganharem migalhas do pão que ele levava a boca.  Ele continuou a morder fortemente o pão quando percebeu que não estava sozinho naquele banco. Acomodou-se como quem marca território, mas não fez mais que isso. Alguns minutos depois, o vento soprou e algo como longos cabelos bateram em seu rosto. Nesse momento ele percebeu que sua companhia de banco era uma mulher. Ficou curioso para saber como ela era, mas guardou a curiosidade para si.
Minutos continuaram a passar e alguém resolveu quebrar aquele silêncio. Ela, sim, ela resolveu perguntar:
– Você vê o dia?
Ele desconsertadamente perguntou:
            – Você está falando comigo?
– Sim, estou perguntando a pessoa que eu sei que está nesse banco comigo.
– Infelizmente eu não posso lhe dizer, pois sou cego. Não vejo o dia e nem a noite.
– Eu também sou cega. Lhe perguntei pensando que você não era cego, pois é um costume que tenho. Em todos os locais que ando sempre pergunto a alguém como está o dia para que esse alguém possa me dizer e eu possa imaginar o que é real.
– E isso é bom?
– É sim! Me faz sentir presente no mundo. Não me sinto tão deslocada.
– Gostei disso. Acho que vou começar a fazer.
– Que tal irmos procurar alguém aqui na praça que possa nos dizer?
            – Gostei da ideia.
Os dois levantaram. Cada um com sua bengala. Dirigiram-se em busca de alguém. Até que... pararam uma senhora e perguntaram uníssonos:
– Você vê o dia?
A senhora respondeu:
– Sim!
Eles completaram:
– Nos diga como ele está.
Calmamente a senhora descreveu como estava o cenário que os rodeava. Terminada a descrição eles agradeceram à senhora e saíram. Cecílio sorria. Cristina perguntou:
– E aí? Gostou da experiência?
– Foi muito boa. Consegui imaginar como está o dia.
Cristina bateu a bengala em uma pedra e perguntou:
– Posso lhe contar um segredo?
Cecílio respondeu:
– Pode.
Ela prosseguiu:
– Eu pergunto as pessoas, imagino e guardo todos os dias bons como o de hoje em meu cérebro para que quando alguém me disser que o dia está ruim eu imaginá-los.
            Ele a questionou:
– Mas isso não é um grande segredo.
Ela acrescentou:
– É o segredo de minha felicidade.
– Então, já que funciona, a partir de hoje farei isso também. Olha, já estou contando meu mais novo segredo para você.
Cristina gargalhou e disse que tinha de ir. Ela já havia se afastado quando Cecílio gritou:
            – Ei, qual é seu nome?
– Cristina! E o seu?
– Cecílio!
Cecílio não ouviu mais nada além disso. Cristina se perdeu na escuridão e ele voltou para casa levando consigo o desejo de conhecê-la melhor. Ela havia despertado nele algo novo, melhor que a liberdade. Era como se ele enxergasse com o coração. Era uma sensação nova que ele não sabia o nome por nunca tê-la sentido.
No dia seguinte ele colocou seu perfume em demasia e esperançoso dirigiu-se à pracinha. Sentou no mesmo banco e quando uma criança passou perto dele ele disse:
– Ei, você vê o dia?
A criança um pouco assustada falou:
– Vejo.
O ceguinho continuou:
– Pois me diga como está.
A criança panoramicamente observou o ambiente e disparou:
– O sol hoje não está tão vivo. As nuvens estão esbranquiçadas. A grama está verdinha. As rosas... não têm tantas rosas. As flores estão alegres, mas poucas. A pracinha está um pouco menos movimentada.
Ao terminar a descrição a criança disse que precisava ir brincar e saiu correndo.
Cecílio agradeceu, mas a criança não estava mais ali para ouvir seu “Obrigado!”.
O ceguinho permaneceu sentado naquele banco esperando que alguém – Cristina – o fizesse companhia. Porém, esperou em vão, pois as horas passaram e ninguém apareceu. Saiu desapontado para casa.
No dia seguinte fez o mesmo ritual do dia anterior e foi à pracinha. Chegando, sentou no banquinho, mas com um semblante triste, pois já não estava tão esperançoso com a ideia de Cristina aparecer.
De repente, alguém sentou no banco. Seu sangue ferveu. Ele pedia confiante aos céus que ventasse para saber se era uma mulher. Mas nem foi preciso dar trabalho aos céus, pois uma voz idosa e cansada falou:
– Bom dia, filho. Vou sentar um pouquinho aqui para descansar, essas minhas compras estão muito pesadas.
Pigarreando ele não deu muita atenção à senhora. Estava frustrado.
A senhora saiu.
Demorou, mas quando ele menos esperava outra pessoa sentou no banco e fez a pergunta que mudou seu dia:
– Você vê o dia?
Cecílio profundamente feliz e desconsertado respondeu:
– Não vejo, eu sou Cecílio.
– Cecílio é você mesmo? Que bom! Sentamos juntos novamente.
– Que bom!
Cristina balançou a bengala e docemente perguntou:
– Posso lhe fazer um pedido?
– Pode sim!
– Posso tocar em você para que eu saiba como você é?
Um virou-se para o outro e Cristina começou. Suas mãos delicadas pousaram no rosto de Cecílio. Ela tocou seus olhos, sua sobrancelha, desceu seu nariz e parou por alguns segundos deslizando os dedos por seus lábios até que contornou sua face. Foi descendo as mãos e percorreu os braços dele. Parou. Cecílio, que nunca havia sido tocado daquela maneira, estava em êxtase. Seu sangue circulava rapidamente e o corava. Seu coração palpitava e algo que ele nunca havia sentido antes tomava conta de seu ser: o prazer. Essa nova sensação fazia-o homem. Ele havia descoberto o mundo. Ele agora experimentara a verdadeira liberdade. Agora sim sabia o que era isso. Ela o havia beijado com os dedos. Tudo havia se modificado. O toque. As sensações. O toque. O sangue corria. O toque. Seu corpo pegava fogo na escuridão. O toque. Seu corpo experimentava o prazer. O toque. Descobrira a vida. O toque. Tornou-se um homem liberto.
Ele ficou paralisado por alguns instantes para poder guardar aquele toque e o reconhecer em qualquer parte do mundo. Guardou-o. Cristina fazia o mesmo.
– Pronto! Já guardei suas feições! Disse Cristina.
Ele ainda não falava.
Passou alguns segundos e ela falou que tinha de ir embora porque já estava ficando tarde. Despediu-se de Cecílio tocando seu ombro e sumiu na escuridão.
Cecílio também resolveu ir para casa. Não tinha mais nada para fazer naquela praça. Caminhou feliz e já se preparava para amanhã.
O dia amanheceu. Ele se vestiu, se perfumou e foi à pracinha objetivando mais que nunca encontrá-la. Queria a conhecer melhor, embora já conhecesse seu melhor lado: seu toque.
Sentou-se no banco e ficou esperando. Esperou até ficar somente ele na pracinha. Ela não apareceu. Caminhou decepcionado para casa, mas com a esperança de amanhã ela aparecer.
A manhã chegou, ele fez todo seu ritual e novamente Cristina não apareceu. Ficou mais triste ainda, mas sempre alimentando a esperança de vê-la no dia seguinte. Vários dias seguintes se passaram e só o que aparecia era o toque dela em sua mente. A esperança de vê-la diminuía progressivamente. Ele sofria. Em tão pouco tempo, com poucos e pequenos encontros, Cristina havia se tornado a paixão de sua vida. Ela o fazia se sentir vivo no mundo escuro. Ela era como ele. Ele queria a conhecer melhor. Queria evoluir aquele toque. Queria beijá-la. Queria amá-la.
Anos se passaram, ele não frequentava mais a praça por conta de Cristina e vivia escuro por dentro. Nada mais o fazia sorrir. Nunca mais perguntara a alguém se via o dia. A solidão corroía seu âmago. A tristeza o cegava sentimentalmente enquanto a cegueira o cegava corporalmente. Tudo era escuro. Não tinha mais vida. Viver já não tinha mais graça. Não passava de um ser escurecido pelo destino. Mas um dia algo aconteceu e deu um basta nisso tudo.
Era quase finzinho de tarde. Cecílio tinha ido à farmácia comprar um comprimido. A rua estava movimentada. A barulheira era grande. As pessoas esbarravam-se. As sacolas de compras batiam em Cecílio. O espaço era pequeno para tanta gente. Buzinas. Buzinas. Reclamações. Brigas. O trânsito estava um inferno.
Cecílio andava devagar e estava um pouco desorientado com tanta movimentação. Sua bengalinha ia a sua frente abrindo caminho. Ele seguia rumo à farmácia quando... quando algo o paralisou. O fez perder a cabeça. Mudou seus sentidos, sua direção. Um toque. De repente, alguém havia tocado seu ombro. Era o mesmo toque. Ele o conhecia. Ele rodou, mas não havia ninguém. Chamou instintivamente por Cristina, mas ninguém respondeu. Saiu desesperado para qualquer direção. Não sabia mais para onde caminhava. Um baque. Carros buzinavam. Gente corria. Gritos. Olhares espantados e curiosos. Alguém sangrava no chão. O cheiro de vida se esvaindo era forte. O desespero tomava conta dos espectadores. Cecílio. O toque. Ele havia sido atropelado quando saiu desorientado andando na faixa de pedestre como semáforo verde. O sangue jorrava de sua boca. O toque. Sua bengala encontrava-se quebrada ao seu lado. Seu corpo endurecia vagarosamente. O toque. A vida deixava aquele corpo escuro. Cecílio morria. A vida ia-se por conta de um toque. Morria perturbado com a possibilidade de vê-la novamente. Vomitou o resto de sangue que ainda tinha em seu corpo e não enxergou mais nada como sempre fez em toda a sua vida.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Bang!


Charlote não aguentava mais aquela vida. Estava farta daqueles vestidos curtos, daqueles espartilhos que comprimiam seu tórax, os quais ela era obrigada a utilizar para formar uma falsa silhueta, visto que com a idade as coisas mudaram, principalmente em seu corpo. Detestava calçar aquelas meias longas que demoravam muito para se ajustarem as suas pernas flácidas. Há anos ela vivia nessa vida miserável.
            Sua casa, ao mesmo tempo seu local de trabalho, ficava situada às margens de uma estrada poeirenta relativamente movimentada. Era uma casa pequena, tristemente colorida de um tom alaranjado devido à poeira da estrada. Sua frente era composta por uma porta de madeira bastante desgastada que resistia bem a ação do tempo e por uma pequena janela. Charlote era uma prostituta famosa e por isso, sua casa não tinha uma placa informando que aquilo se tratava de uma casa de promiscuidade.
            Em toda a sua vida ela passou por dificuldades. Nasceu em uma fazenda miserável. Seus pais faziam tudo o que o patrão mandava e recebiam uma miséria. Ela e suas três irmãs passavam fome, mas diferente das irmãs, Charlote queria um destino melhor, passava horas a pensar nisso. Não queria ter um destino igual ao de sua mãe, D. Glória, uma pobre camponesa submissa ao marido alcoólatra que era violento e a espancava na frente das filhas.
            Desde pequena mostrara-se uma linda moça. Cresceu e tudo que apresentava alguma pequena imperfeição foi melhorado tornando-a a mais bela mulher daquela região. Tinha os cabelos ruivos quase escarlates capazes de descontrolar qualquer homem. Sua pela além de aveludada era branca como uma vela. Seus olhos azuis-esverdeados tinham, assim como os da Medusa, o poder de petrificar os espécimes masculinos. Seu rosto tinha traços angelicais que escondiam sua verdadeira personalidade. Seu corpo parecia ter sido cuidadosamente modelado. Era todo proporcional e tentador.
            Com tanta beleza foi impossível não ser cortejada. Muitos rapazes brigavam por ela, contudo apenas um ganhou o coração da moça: Billy, o filho mais novo de outro camponês ali da fazenda.
Conheceram-se quando ela lavava roupas. Ela encontrava-se toda ensopada, o que marcava bastante suas formas e que levou Billy à loucura. Sem pestanejar ele foi ao encontro da moça saber seu nome. Mas, tímida que era, afastou-se repentinamente.
– Qual a sua graça?
Recompôs-se e observou a beleza do jovem. Pegou a toalha que iria ensaboar, secou parcialmente as mãos e respondeu apertando as mãos de Billy:
– Charlote, moço.
Depois desse dia, Billy sempre aparecia com novos galanteios até que conquistou de vez o coração de Charlote. Ela passava o dia ajudando a sua mãe e rezando para que a noite chegasse, pois esta trazia consigo Billy, que sempre a levava para contar as estrelas com ele. Entre uma estrela e outra eles aproveitavam para se beijar e acabavam esquecendo onde tinham parado e tinham de recomeçar tudo novamente.
Com o passar do tempo seu amor por ele só amentou, mas ela não podia desistir de seu grande sonho, que era o de sair dali e mudar de vida. Billy tinha uma vida horrível assim como a dela e não dava sinais de que queria sair daquele lugar. Portanto, casar-se agora e ser submissa a um homem não eram seus objetivos de vida.
Decidiu então, com o coração partido e o rosto molhado por salgadas lágrimas, em um seco dia de Agosto, sair dali. Preparou a mala com o pouco que tinha – quatro vestidos, um par de sapatos e uma blusa – e esperou que o negro da noite invadisse a propriedade para que ela pudesse sair sem ser observada. A noite chegou e ela sorrateiramente saiu. Dirigiu-se até a estrada na esperança de encontrar uma carona que a levasse até a cidade. Ficou ali horas até aparecer uma caminhonete azul. O motorista, um sujeito bigodudo de chapéu marrom, perguntou com toda ousadia:
– Quer uma carona, belezinha?
Ela meio sem jeito balançou a cabeça afirmativamente.
– Está esperando o quê? Entre logo!
Ela rapidamente abriu a porta da caminhonete, sentou, colocou sobre as pernas sua mala rasgada e fechou a porta de supetão.
O homem seguiu viagem e enquanto observava aquela paisagem seca e repleta de cactos ele aproveitou para saber um pouco da vida de Charlote e o que ela iria fazer na cidade. Ficou admirado com sua vida miserável e propôs ajudá-la:
– Uma moça bonita como você terá futuro garantido na cidade. Eu vou lhe apresentar a um amigo meu e ele lhe ajudará.
Depois de quase duas horas sentada naquele banco duro sentindo o cheiro do cigarro forte do velho ela desceu em um bar. O local onde se encontrava o tal amigo do bigodudo.
– Gil, você está aí?
– Sim. Já vou aí fora.
Gil apareceu. Era um homem forte, viril e muito alto. Não tinha uma cara simpática e olhou Charlote dos pés à cabeça.
– O que achou do material? Perguntou o velho.
– Excelente! Respondeu Gil.
– Belezinha, você já está entregue e Gil saberá o que fazer com você. Garanto que aqui você não passará fome.
Gil olhou-a novamente e a mandou entrar. Daquele dia em diante sua vida mudou. Gil fez de Charlote a prostituta mais desejada daquela região. Ela teve uma vida regrada a álcool, homens e dinheiro. Esqueceu-se de sua vida miserável, mas não se esqueceu de Billy, seu amor. Agora, ela já tinha dinheiro suficiente para que os dois se casassem e vivessem confortavelmente.
Todavia, para a decepção de Charlote, o tempo passou e Billy não a procurou. Ela envelheceu e foi enxotada do empreendimento de Gil, pois os clientes procuravam as novidades. Decidiu então ir viver em uma casa isolada e continuar vivendo da prostituição. Guardou todo o dinheiro que conseguiu e continuou adquirindo mais, agora em sua velha casa.
Billy também envelheceu, deixou o bigode crescer e tornou-se um dos bandidos mais procurados do velho oeste. Nunca se casou por causa da decepção que teve com Charlote e vive dos roubos bem planejados e atrevidos. Tornou-se um forasteiro impiedoso e cruel. Matar para ele é como beber água.
Um dia, sentado em seu alpendre segurando seu chapéu de couro e afrouxando o lenço que sufocava seu pescoço, ele recebeu a visita de seu irmão mais velho que tinha ido morar na cidade no mesmo tempo em que Charlote sumiu. Ele chegou e contou muitas novidades, inclusive o que tinha acontecido ao grande amor de seu irmão. Billy ficou chocado e maquiavelicamente preparou um plano em sua cabeça. Dois dias depois disso se mandou para a cidade. Demorou um pouco, mas ele conseguiu chegar. Graças a diversas informações conseguiu encontrar a casa de Charlote.
Desceu de seu carro, firmou fortemente um revólver Colt 45 em cada mão, dirigiu-se até a porta e deu um chute tão forte que fez Charlote tremer. Ela, mais que depressa, abriu a porta e ficou chocada com o que viu. Conturbada, deu três passos para trás e reconheceu aquele sujeito. Piscou os olhos e o recepcionou com um belo sorriso. Sem se comover, Billy levantou uma das mãos, puxou o gatilho e a acertou com um tiro no coração. Ali mesmo ela caiu e endureceu com um sorriso no rosto. Billy assoprou a ponta do revólver para que o ferro esfriasse, guardou-o em um de seus bolsos, girou o outro em seu dedo indicador e também o guardou. Olhou para o corpo da prostituta, sorriu e saiu tranquilamente em seu carro rumo ao próximo assalto.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Uma história de amor


Vestiu-se ansioso. Tomou café. Chegou à escola. O sino tocou. Estava oficialmente aberto o ano letivo. Jorge rapidamente se dirigiu a sala de aula tomada por estranhos. Ninguém, absolutamente ninguém, era seu conhecido.
 A professora entrou. Logo, começaram as formalidades. Apresentações, falas, risos, timidez... Cada um era respeitado em sua singularidade. Passam-se apresentações e mais apresentações, até que chega a vez de Jorge. Com os lábios ressecados pelo nervosismo e com as pernas bambas de timidez, profere simples e rápidas palavras.
Do outro lado da sala, bem longe de nosso herói, está Maria. Linda, meiga, comunicativa e popular. Quando se apresentou, não transpareceu, nem por um minuto, seu nervosismo – se é que ela tinha. Sinceramente, acho que essa palavra nunca esteve presente na vida dessa menina.
As aulas daquele dia foram terminando e nosso herói ainda não tinha se enturmado com muita gente. Todavia, alguém naquela desgastada e velha sala tinha lhe chamado atenção.
Pronto para mais um dia de aula e disposto a ir conversar com Maria, ele entra na escola. Mas, sua timidez o faz mudar rapidamente de ideia. Entra na sala. Ela estava rodeada de amigas conversando enquanto o professor não chegava.
De sua cadeira o menino observava discretamente sua colega. O jeito como ela mexia no cabelo o fascinava. O seu sorriso fazia-o voar. Até o simples piscar de olhos da menina lhe deixava feliz.
Os dias foram passando e o garoto descobriu que estava apaixonado por Maria. E, finalmente, resolveu procurá-la. Já tinha um plano em mente: iria começar sendo amigo dela, para depois conquistá-la. E assim fez. Encorajou-se. Esqueceu a timidez. Arrumou o cabelo. Deu aquela arrumadinha básica no colarinho e foi.
Quando chegou perto dela até o seu âmago tremia, mas não deixou que isso transparecesse. Começou falando sobre uma tarefa e depois já estavam criando um vínculo. Amigos? Para a garota sim.
A cada intervalo que se passava a amizade aumentava. E assim continuaram.
Mas, Jorge – manipulado pela timidez e pelo medo – não tinha coragem de dar continuidade ao plano. Sofria sozinho. O amor e amizade coexistiam dentro daquele pequeno e frágil ser.
Ele, por medo, esqueceu o plano.
Ela, linda e sedutora, continuou a ficar mais íntima do jovem.
O tempo foi passando, as séries aumentando, a amizade se solidificando e nada mais acontecia.
Hoje, a menina virou confidente do menino que nunca contou que a ama. E, o menino ainda guarda em seu doce e frágil coração o amor que espera um dia oferecer a jovem.
Tomara que em um dia qualquer, a coragem que o possuiu no dia em que falou pela primeira vez com a garota volte, e ele possa dar continuidade ao plano já esquecido em sua mente, mas vivo em seu coração.