quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Como foi seu dia? Como vai sua vida?


Hoje vim para conversarmos. Isso mesmo! Quero saber de você como anda a vida.
Como você está?
Você acordou disposto?
Comeu o suficiente?
Orou?
Agradeceu por ter acordado e visto o mundo a sua volta?
Conseguiu dar conta de todas as tarefas?
Fez com amor?
Sentiu prazer em realizá-las?
O dia voou ou pousou lentamente sob os ponteiros daquele lindo relógio que você tem?
Sentiu que estava acompanhado durante todo o dia?
Deleitou-se ou suportou mais um dia?
Aconteceu algo de bom?
E de ruim?
Foi bem na escola?
Na faculdade?
Mostrou esses pequenos seres humanos brancos e delicados que você ostenta na boca em algum momento?
Foi motivo do sorriso de alguém?
            Enfim, aproveitou essas horas preciosas de vida que Deus te ofereceu?
...
Você deve está pensando que enlouqueci, mas estou sano. Só quero interagir, saber do seu dia. Pode ter sido fácil, difícil, alegre, triste... Enfim, só sei que foi singular. Foi só seu. Então, gostaria que fizesse o seguinte: pegasse uma folhinha de papel, um lápis ou uma caneta e anotasse suas respostas para cada uma dessas perguntas acima. Ah, se você preferir, pode responder no celular ou deixar nos comentários aqui do blog. Depois, leia suas respostas, veja como foi seu dia. Se quiser me mandar, mande. Caso contrário, guarde só para você.
Por que eu estou fazendo isso? O que você vai ganhar com isso? Isso é só uma tentativa minha de te mostrar que me importo com você e que o melhor está nas pequenas coisas, que a gente vive em uma correria insana que não para para pensar no que aconteceu em nosso dia, que esquecemos dos sorrisos, das pessoas, das atitudes, das faces, dos olhares. Quero ser o alguém que vai perguntar como foi seu dia. Acredite, muita gente não tem alguém que pergunte como foi seu dia, como anda a vida, enfim,  que se importe. Isso faz muita diferença! Se não faz para você, sinto muito, mas creio que para algum ser deste mundo gigante e conturbado isso faz toda a diferença, e é para esse ser que escrevo, para mostrar que ele pode contar comigo, que eu me importo com ele, com a vida dele, com o dia dele.
Voltando às perguntas, gostaria de acrescentar que você deve sempre fazer isso. Todos os dias. Se não tem quem te pergunte como anda sua vida, como foi seu dia, escreva as respostas dessas perguntas para você mesmo e guarde as folhinhas, principalmente as dos dias excelentes. 
Espero que você olhe para suas respostas, seja lá onde for que elas estejam, e reflita sobre a importância das perguntas simples. Peço que dê mais valor à vida, aos dias, às pequenas coisas. Trate de fazer o que gosta e aproveitar o dia sempre alimentado com boas energias e vestido com sorrisos sinceros. Não viva empurrando com a barriga. Não faça nada obrigado. Não se deixe abalar pela falta de perguntas e mascaramento de respostas. Ame seu dia. Ame o mundo. Ame a vida e agradeça sempre. Claro que dias ruins virão e que você não vai conseguir sair esbanjando felicidade vinte e quatro horas por aí, mas para esses dias use sua folhinha com as respostas de um dia bom. Pensando bem, não importa quão ruim for seu dia, você sempre terá algo de bom para soltar como resposta e nem vai precisar da folhinha de outro dia, vai por mim. Não acredita? Pois bem, acordar todo santo dia, abrir os olhos e vê o colorido do universo não é uma coisa boa, uma resposta alegre e feliz para o “como foi seu dia?” ?

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O fim do começo


A vida de Alex fluía por entre os dedos de Joana. Ela sentia o sangue quente de seu amante escorrer por seu braço. Aquilo lhe dava prazer. Ela se lambuzava com o líquido escarlate e por entre as pernas descia o prazer. Joana gargalhava e já estava tonta com o cheiro de vida ultrapassada. Mas ela queria satisfazer-se com tudo o que sobrara de Alex. Esperneou-se na poça de sangue, molhou a nuca e os cabelos. Por fim, bebeu aquele sangue todo. Para que o cadáver ficasse limpinho ela passou a língua por completo em todas as partes de Alex. Enfim ela havia conseguido, fora a última a se deitar com Alex. Ela se sentia extasiada por isso. Era o fim daquilo tudo.
O quarto estava abafado. Joana levantou-se e vestiu-se. Tirou a calcinha vermelha e socou-a goela abaixo em Alex. Delicadamente se virou para a cama e alisou a colcha vermelha eliminando os amassados. Ajoelhou-se na frente do corpo, sustentou-o em seus braços brancos e delicados e o colocou sobre a cama. Beijou a testa do morto, que já estava congelada, e saiu tranquilamente do quarto.
Enquanto descia a escada elegantemente, lembrava o quanto tinha sido feliz com Alex. Lembrou-se da primeira vez que tinha o visto há dois anos. Era um homem branco, alto, corpulento e viril. Quando o viu o sangue ferveu.  Seu útero pulou. Queria ser fertilizada, na verdade estava mais que na hora de ser fertilizada, já tinha trinta e oito anos.
O restaurante estava um pouco movimentado e ela tinha vindo acompanhar a irmã num encontro amoroso marcado por telefone. Ela não fazia ideia de quem era o homem por quem Lívia suspirava. Continuou olhando para Alex e para sua surpresa ele estava vindo em direção à mesa das duas. Ele chegou. Sorriu para Joana, mas foi beijar a mão de Lívia. Joana congelou. Seu útero agora se esvaia com tamanha decepção. O homem por quem ela havia se interessado era o amado de sua irmã. Ela tomou o restante de suco que tinha no copo e saiu deixando os dois a sós.
Terminou de descer a escada e sorria ao relembrar que a irmã fora traída antes mesmo de se casar com Alex. Na noite que antecedia o casamento de Lívia, Joana vestiu uma calcinha vermelha – a mesma que ela enfiou goela abaixo no corpo frio e sem vida – e um sutiã preto, acomodou em seu corpo um vestido que marcava suas curvas e foi até o endereço de Alex. Ao chegar lá não precisou ter muito trabalho, pois ele não cedeu, a satisfaz na hora; no chão e sem puder algum.
Dirigiu-se a cozinha para preparar um suco e enquanto terminava de lamber o sangue que tinha coalhado em seus lábios lembrava de como fora melhor ainda viver às escondidas com Alex depois que ele havia casado com a irmã. Como moravam na mesma casa, no momento em que Lívia não estava em casa ela aproveitava. Seu maior desejo era ser fertilizada por aquele homem – desejo que ela conservou até hoje. Mas ele não deixava, sempre se protegia. Ela se irritou com isso e cansou de ser objeto sexual secundário daquele nojento e resolveu matá-lo. Agora estava com a alma lavada. Contudo, antes de matá-lo o fez fecundá-la, agora ela era verdadeiramente mulher. Estava renovada. Seu útero fervia. Era como uma fábrica abandonada há anos que voltava a funcionar. As máquinas trabalhavam, as chaminés esquentavam e eliminavam fumaça purificadora por todo o íntimo escuro e gelado de Joana. Ela agora era quente. Era mulher. O calor subia, subia, subia. Ela queria gritar de prazer. Segurava o cabelo e mordia os lábios. Queria gritar. Queria mostrar para o mundo como era bom ser mulher.
Seguiu radiante até a geladeira. Mais calma, mas quente. Queria água para acabar de purificar aquele corpo velho. Queria que um novo íntimo surgisse. O líquido, cristalino fluído, deveria a percorrer por dentro e limpar. Era só o começo. A cabeça fervilhava em planos. Joana continuava velha, mas queria um novo âmago já que agora estava fertilizada. Abriu a geladeira e ao mesmo tempo em que segurou na porta do eletrodoméstico algo gelado entrou vagarosamente em suas costelas. Ele sentiu uma dor fina. Parecia não estar mais se renovando. Algo jorrava para fora dela, algo só dela. Sentiu novamente a dor, e mais uma vez, e mais uma vez, até que parecia estar toda se esvaindo. Tudo saia e ela não tinha mais controle. Algo estava errado, ela tinha certeza que não estava se renovando. Juntou todas as suas forças e conseguiu, depois de muito esforço, enxergar Lívia sorrindo atrás dela segurando firmemente uma enorme faca ensanguentada na mão. Tentou ficar de pé, mas sem sangue ela não era nada. Seu sangue jorrava, jorrava, jorrava. Lívia gargalhava. Enxergou um mar vermelho vivo. Era bem convidativo. A água brilhava e parecia ferver. Era um imenso concentrado de vida renovadamente selvagem. Resplandecia. Joana fechou os olhos e mergulhou no mar. Nunca mais voltou a superfície.