Enxágua, seca e passa?
Estou sentado, bem sentado de pernas cruzadas.
Ouvindo apenas os ruídos do “comigo mesmo”. Fortes, diga-se de passagem. Com o
indicador pressionando a têmpora e os neurônios a fervilhar penso na vida como
uma lavanderia. Sem Vanish? Sem Vanish! Nessa lavanderia nada apaga manchas. Se
você apresenta alguma mácula colorida, vire-se. O máximo que você pode fazer é
mergulhar em águas cristalinamente turvas por demasiadas vezes e conseguir um
leve clareamento.
Louco? Nem tanto! Normal para quem me conhece
pessoalmente. Prosseguindo com o pensamento altamente possível, somos roupas.
De grife, da feira, colorida, monocromática, inteira, rasgada, nova, velha,
enfim, ROUPAS. Resíduos Obscuros de um Universo Pouco Amigável e
Segregador. Passamos o dia em cabides ou
simplesmente jogados em espaços pouco confortáveis. Um puxa daqui, outro dali;
um amassa aqui, outro alisa ali; um rasga aqui, outro costura ali e vamos
sobrevivendo.
Guarda-roupas? Quem disse que todas as roupas têm
acesso? Muitas são jogadas, descartadas como lixo no ambiente (mas um lixo que
será usado novamente, no dia seguinte). Caladas e obedientes moldam-se ao
formato que lhe incubem. Triste. Triste. Muito triste pensar na vida das
roupas, na subserviência e submissão. Que seres detestáveis.
Roupa é um ser? Somos um ser? Eu não sei mais de
nada. Divaguei e me perdi. De acordo com “comigo mesmo”, roupa é um ser
(metaforicamente), pois estou comparando-a com a gente. Mas, na verdade, acho
que roupa é ser tanto quanto somos seres. Dois amontoados moleculares
subservientes.
Já me alonguei demais falando das roupas. O foco
aqui não são elas. Vim falar da lavanderia chamada vida. Por que falei tanto
das roupas? Foi necessário? Se foi ou não foi, cabe a você decidir porque não
vou mais apagar o que já digitei. Vai ficar assim e pronto!
Só sei que a vida é uma lavanderia e somos roupas
sujas. Vivemos na lavanderia tentando nos limpar até não conseguir, rasgar e
desaparecer para sempre. Todos são jogados em grandes máquinas, mergulhados em
água e rotacionados. Com manchas ou sem manchas são lavados, enxaguados,
secados e passados. Mas será que passa mesmo? Só isso é o suficiente? O que é
suficiente para viver? Viver é preenchível, palpável e acabado? Nada passa.
Viver não passa. Manchar não passa. Rasgar não passa. A vida não passa. A vida
te enxágua, seca, passa e te vomita iludindo-te. Na verdade, nada passou e você
está superficialmente liso. Por dentro continua o mesmo e não vai ser na
lavanderia que vai conseguir mudar. Recorra ao quer for possível!